Janela de tempo para evitar recessão nos EUA se estreita, afirma editorial do jornal chinês Global Times
Texto destaca efeitos negativos das tarifas e incerteza econômica como ameaças crescentes à estabilidade dos Estados Unidos
247 - A janela de tempo para que os Estados Unidos evitem uma recessão econômica está se estreitando rapidamente, advertiu o jornal estatal chinês Global Times em editorial publicado nesta quarta-feira (5). Com base em dados oficiais recentes e análises de mercado, o texto denuncia o peso das tarifas e a fragilidade da política econômica norte-americana como entraves ao crescimento sustentável do país.
O editorial parte da divulgação do Livro Bege do Federal Reserve, documento que traça um panorama das condições econômicas no país, para pintar um cenário preocupante. O relatório mostrou que, nas últimas seis semanas, a economia dos EUA encolheu, com desaceleração nas contratações e aumento do pessimismo entre empresas e consumidores — especialmente em razão dos custos decorrentes das tarifas comerciais.
O peso do protecionismo fica evidente até na linguagem: o termo “tarifas” foi citado 122 vezes no documento, segundo a CNBC, contra 107 menções no relatório de abril. Para o Global Times, esse salto mostra que a questão tarifária deixou de ser episódica e tornou-se um fator estruturante da crise econômica norte-americana.
Outro dado relevante publicado na quarta-feira reforça esse diagnóstico. O Instituto de Gestão de Suprimentos (ISM, na sigla em inglês) informou que o índice de atividade não industrial caiu para 49,9 pontos em maio, abaixo da marca de 50 pela primeira vez desde junho de 2024 — indicando retração no setor de serviços, um dos pilares da economia dos EUA.
Divergência entre analistas reflete incerteza
Embora alguns analistas mantenham um otimismo cauteloso, o ambiente geral é de incerteza. Leif Eskesen, economista-chefe da CLSA, afirmou à CNBC que uma recessão pode ser evitada “se as condições permanecerem como estão”. Já o banco UBS alertou que os riscos de recessão “estão subindo novamente”, com base em indicadores concretos como taxas de juros, crédito e atividade econômica.
Segundo o Global Times, essa divergência de interpretações é sintomática do momento de fragilidade que atravessa a economia dos EUA. “Não é exagero dizer que os EUA estão em uma encruzilhada crítica, entre o crescimento e a recessão”, avaliou o editorial. O jornal defende que o futuro dependerá da capacidade dos formuladores de políticas econômicas em enfrentar simultaneamente inflação, desaceleração do mercado de trabalho e tensão comercial global.
Corte de impostos e déficit fiscal: dúvidas internas
Internamente, há expectativa em torno de um novo pacote de cortes de impostos. A medida, segundo seus defensores, poderia estimular o consumo e o investimento privado. No entanto, o Global Times expressa ceticismo: “Não está claro se as empresas vão aplicar os recursos em expansão de produção e empregos, nem se os consumidores vão realmente gastar mais”.
Além disso, o aumento do déficit fiscal — estimado em US$ 1,9 trilhão para o ano fiscal de 2025, ou 6,2% do PIB, segundo o Escritório de Orçamento do Congresso dos EUA — adiciona uma camada de incerteza à trajetória da economia americana.
Protecionismo agrava cenário internacional
Na frente externa, o editorial chinês critica duramente o protecionismo comercial promovido por Washington. Em vez de proteger indústrias locais e reduzir déficits, as tarifas vêm provocando o oposto: interrupções nas cadeias globais de suprimento, medidas retaliatórias de parceiros e perda de confiança dos agentes econômicos.
De acordo com o texto, países que mantêm relações comerciais com os EUA já não estão mais dispostos a aceitar novas concessões “na esperança de normalizar as relações”. A continuidade do impasse comercial, adverte o Global Times, é um risco que a economia global “não pode mais sustentar”.
Sinais de desaceleração se acumulam
O ritmo de criação de empregos no setor privado oferece mais indícios de estagnação. Em maio, foram apenas 37 mil novas vagas, segundo a ADP — muito abaixo das 60 mil (revisadas para baixo) em abril e da previsão do mercado, de 110 mil. Trata-se do pior resultado mensal desde março de 2023.
Para o jornal chinês, os Estados Unidos precisam oferecer ao mercado “um mínimo de previsibilidade e confiança” sobre os rumos da política econômica. Caso contrário, a margem de manobra para evitar uma recessão se reduzirá a ponto de desaparecer.
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