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      Como a Ucrânia executou um ousado ataque no coração da Rússia

      Drones camuflados e guiados por IA atingiram aviões de longo alcance russos em bases a milhares de quilômetros da Ucrânia

      Arquivo. Um drone FPV com um lançador de granadas portátil acoplado é visto durante um voo de teste conduzido por militares ucranianos da Unidade de Veículos Aéreos Não Tripulados 'Bulava' da Brigada Presidencial Separada em sua posição perto de uma linha de frente, em meio ao ataque da Rússia à Ucrânia, na região de Zaporizhzhia, Ucrânia, em 11 de outubro de 2024 (Foto: REUTERS/Stringer)
      Luis Mauro Filho avatar
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      Reuters - Três dias após a Ucrânia realizar o ataque mais sofisticado contra a Rússia desde o início da guerra em larga escala, novos detalhes seguem vindo à tona sobre como a ofensiva foi conduzida e os danos causados à frota de bombardeiros estratégicos de Moscou. A reportagem original é da agência Reuters.

      O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, descreveu a operação, batizada de “Teia de Aranha”, como “absolutamente brilhante”. Na quarta-feira (4), afirmou que, das 41 aeronaves atingidas, metade não poderá ser reparada.

      As ações tiveram como alvo pelo menos quatro bases aéreas militares russas. A mais distante da Ucrânia fica em Belaya, na região siberiana de Irkutsk, a cerca de 4.850 km de Kiev.

      Segundo autoridades ucranianas, 117 drones foram contrabandeados para dentro do território russo. Ocultados sob telhados retráteis de barracões de madeira, os equipamentos foram levados até áreas próximas às bases e então operados remotamente para atacar bombardeiros estratégicos com capacidade nuclear. Em alguns casos, algoritmos de inteligência artificial guiaram os drones até os alvos.

      Autoridades russas reagiram na quarta-feira, dizendo que “opções militares estavam sobre a mesa” como resposta aos ataques profundos em seu território. O Kremlin também acusou o Ocidente de envolvimento nas operações.

      A principal ameaça da Ucrânia tem sido justamente o uso de drones de longo alcance, que vêm atingindo refinarias, bases e depósitos militares em território russo. Apesar dos avanços tecnológicos e do aumento na produção, tais drones têm alcance inferior a 5 mil km e são frequentemente interceptados pelas defesas aéreas russas.

      Por isso, o ataque de 1º de junho se baseou em outro tipo de ameaça: drones “kamikaze”, menores, lançados a partir de pontos próximos aos alvos, com apenas alguns quilômetros de distância. O fator surpresa foi essencial para impedir que a Rússia mobilizasse defesas móveis ou usasse bloqueadores eletrônicos a tempo.

      O desenrolar do ataque

      Segundo o serviço de segurança da Ucrânia, o SBU, os drones foram introduzidos clandestinamente na Rússia por seus agentes e escondidos no espaço sob os telhados de galpões de madeira.

      Uma imagem divulgada pelas autoridades ucranianas mostra cerca de 20 drones de quatro hélices posicionados em compartimentos de madeira sob o telhado.

      O governo russo forneceu poucos detalhes sobre a ofensiva. O Ministério da Defesa afirmou que houve ataques a campos aéreos militares nas regiões de Murmansk, Irkutsk, Ivanovo, Ryazan e Amur. As defesas aéreas teriam repelido os ataques em três regiões, mas não em Murmansk e Irkutsk, onde várias aeronaves pegaram fogo.

      Na terça-feira, o Kremlin confirmou a abertura de uma investigação oficial.

      Segundo o site Baza, com acesso privilegiado a fontes de segurança russas, o principal suspeito seria um ucraniano de 37 anos, que se mudou para a região de Chelyabinsk nos últimos anos. A Reuters não conseguiu confirmar a informação de forma independente.

      De acordo com o Baza, o suspeito abriu uma empresa de transporte em outubro do ano passado e adquiriu caminhões em dezembro. Teriam sido desses veículos que os drones foram lançados.

      Os motoristas de quatro desses caminhões, supostamente sem saber do conteúdo das cargas, foram instruídos por telefone a estacionar os veículos em locais específicos. Em ao menos um caso, os drones começaram a voar assim que o caminhão foi parado; em outro, ainda em movimento.

      Nem Rússia nem Ucrânia comentaram as reportagens da mídia russa.

      Imagens em redes sociais analisadas pela Reuters indicam que um caminhão envolvido no ataque à base de Belaya estava estacionado na rodovia P-255, a cerca de 7 km da pista.

      Uma fonte ucraniana afirmou que os drones foram controlados via rede de telefonia celular russa. O SBU detalhou, em nota, que a operação utilizou tecnologia moderna de controle de drones, com inteligência artificial e intervenção manual. Drones que perderam sinal completaram a missão de forma autônoma, seguindo rotas predefinidas. Ao se aproximarem do alvo, as cargas explosivas eram ativadas automaticamente.

      Segundo o SBU, todos os agentes envolvidos já estavam de volta à Ucrânia quando o ataque começou. Zelensky declarou que a operação levou 18 meses para ser planejada e contou com agentes atuando em várias regiões da Rússia.

      Aviões danificados e destruídos

      Imagens de satélite da base de Belaya indicam que entre seis e oito bombardeiros estratégicos foram destruídos ou sofreram graves danos.

      Na base de Olenya, vídeos divulgados pelo SBU e verificados pela Reuters mostram dois bombardeiros Tu-95 em chamas e um terceiro atingido por uma explosão.

      Imagens mais recentes mostram drones pousando sobre antenas de domo de dois aviões espiões A-50 — há poucos exemplares desses modelos na frota russa. Não há confirmação visual de que os drones tenham explodido.

      A Reuters confirmou a localização das quatro bases aéreas mencionadas nas imagens, incluindo a base de Ivanovo, onde estavam os A-50. No entanto, não foi possível verificar a data exata das gravações.

      O SBU afirmou que as aeronaves atingidas incluem modelos A-50, Tu-95, Tu-22, Tu-160, além dos cargueiros militares An-12 e Il-78.

      Até o momento, Moscou não comentou publicamente sobre a declaração ucraniana.

      Para o pesquisador Fabian Hinz, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), o impacto será considerável, pois os aviões atingidos estão fora de linha de produção: “Os russos podem até ter bilhões à disposição, mas essas aeronaves não são mais fabricadas. Isso é mais grave do que perder bilhões de dólares. Foi um ataque muito significativo.”

      As estimativas de aviões atingidos variam, mas especialistas apontam que entre 10 e 13 bombardeiros estratégicos — Tu-95 e Tu-22 — foram destruídos, e outros danificados, com base nas imagens das bases em Irkutsk e Murmansk.

      Embora não represente toda a frota, a perda reduz a capacidade russa de realizar ataques com mísseis de cruzeiro contra a Ucrânia.

      Hinz acrescenta que Moscou pode adotar medidas de proteção em suas bases, mas operações como essa, com drones lançados localmente, abrem um novo campo de possibilidades: “Agora existe todo um mundo novo de oportunidades para sabotagem interna. Este foi o ataque mais espetacular e provavelmente o mais impactante já realizado dessa forma.”

      O enviado à Ucrânia do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o general reformado Keith Kellogg, declarou à Fox News que o impacto psicológico do ataque é mais relevante que os danos materiais. Disse também estar especialmente preocupado com relatos não confirmados de uma ofensiva ucraniana contra uma base naval no norte da Rússia.

      Enquanto isso, nos campos de batalha, a Rússia segue avançando lentamente, o que pode fortalecer sua posição nas conversas preliminares de paz entre os dois países.

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